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Mortes de pedestres em atropelamentos crescem 66% em um ano em Santa Maria

Camila Gonçalves

Foto: Renan Mattos (Diário)
Neste ano, dois pedestres morreram na Faixa Velha. Falta de atenção, pressa e individualidade estão entre as causas dos acidentes

Um cronômetro perturbador indica que em 1 minuto e 41 segundos um pedestre vai morrer em algum lugar do mundo. A contagem está no site da Organização Mundial da Saúde (OMS) e ilustra um estudo divulgado em novembro. O relatório mostra que 1,35 milhão de pessoas morrem por ano em acidentes de trânsito. Em Santa Maria, o ano nem acabou e o número de mortes de pedestres é 66% maior do que em todo o ano passado.

Em 2017, seis pedestres morreram no trânsito da cidade. Em 2018, já foram 10 vítimas até agora. O número corresponde a 29% do total de mortos em acidentes em Santa Maria neste ano, que já soma 34 vítimas.

O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) foi construído em cima de uma lógica: o maior cuida do menor. Portanto, o pedestre, que é a parte vulnerável, tem a prioridade da passagem sobre as faixas de pedestre e em semáforos, por exemplo. Mas, em Santa Maria, o cenário entrega a fragilidade de quem utiliza as vias da cidade a pé. Em 2017, uma pessoa morreu em cima de uma faixa de segurança. Neste ano, foram três casos.

RODOVIAS: CAMPEÃS DE ATROPELAMENTOS
Foto: Charles Guerra (Arquivo Diário)
Faixa Nova foi local de duas mortes este ano

As rodovias são os locais onde acontecem mais atropelamentos em Santa Maria. De acordo com a Brigada Militar, foram registrados 148 atropelamentos neste ano, 113 no perímetro urbano e 35 em rodovias. Porém, 60% das mortes registradas neste ano foram em rodovias, o que significa que os atropelamentos, nesses casos, têm mais chances de serem letais. 

Considerando os acidentes que vitimaram pedestres desde o ano passado, a ERS-509, a Faixa Velha, é a campeã. Foram três ocorrências, duas neste ano. Em 2017, João Volmir Rodrigues dos Santos, 49 anos, foi atropelado perto do Trevo do Castelinho. Em abril de 2018, a funcionária pública Cleonice Leal da Silva, 53 anos, perdeu a vida na Faixa Velha, a um quilômetro do local do acidente de Santos. Em junho deste ano, Adeli Antonieta Papalia, 67 anos, foi atropelada no km 5, ao atravessar na faixa de pedestre.

Veja as ruas e avenidas onde aconteceram os acidentes com morte:

VELOCIDADE NAS RODOVIAS
Em segundo lugar em atropelamentos está a BR-287, que se transforma em Faixa Nova (RSC-287) no viaduto da Rodoviária e volta a ser rodovia federal no entroncamento com a ERS-509 (Faixa Velha), em Camobi. Conforme o delegado Gabriel Zanella, no caso das rodovias, o excesso de velocidade é a razão da maioria das mortes. Ele acredita que, com a conclusão das obras de duplicação da Faixa Velha, os abusos de velocidade serão cada vez mais frequentes se não houver conscientização.

- Tem placas, tem limitação de velocidade, mas as pessoas não respeitam. A tendência é que, quando liberarem a Travessia Urbana, também, as pessoas vão imprimir mais velocidade. Infelizmente, a gente percebe que as pessoas passam a ter mais prudência quando sentem no bolso, quando há multa - comenta.

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Segundo o comandante do 1º Pelotão Rodoviário de Santa Maria, tenente Claudio Orlandi, o Batalhão Rodoviário da Brigada Militar tem intensificado o emprego do radar móvel em locais e horários alternados na Faixa Velha. Além disso, realiza barreiras em locais estratégicos, participa de eventos educativos para o trânsito seguro e tem apostado na presença ostensiva do policiamento rodoviário. Orlandi também acredita que a duplicação da Faixa Velha deve aumentar a imprudência dos motoristas.

- Com a fluidez no trânsito depois da liberação total da rodovia, a tendência é de não haver mais congestionamentos no local, facilitando, desta forma, a condução do veículo de forma constante, sem intercorrências - ressalta o comandante.

A legislação também não obriga os centros de formação de condutores a cumprir parte das aulas práticas em rodovias. Segundo o instrutor Eldecir Luiz Mainardi, os alunos são incentivados a passar pelas rodovias, mas a postura dos motoristas nas estradas é mais abordada do ponto de vista teórico.

COMPORTAMENTO DO MOTORISTA ESTÁ DIFERENTE
Conforme a análise de especialistas, o motivo da violência no trânsito vem de fatores subjetivos, mas, essencialmente, tem a ver com a condição humana. Eles apontam a falta de atenção, a pressa, a individualidade e até a questão emocional como as causas dos acidentes. 

Eder Macedo, chefe da 9ª Delegacia da Polícia Rodoviárioa Federal (PRF), diz que o comportamento no trânsito mudou nos últimos anos. 

- É uma conduta muito instantânea, preocupada na resolução de tarefa de trabalho das pessoas, um nível de estresse muito alto, uma mudança social, de muita pressa e talvez um pouco de individualismo - avalia. 

O delegado Gabriel Zanella, titular da Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DPHPP), que investiga homicídios de trânsito, alerta que o condutor do veículo automotor precisa se dar conta de que ele também é pedestre. 

- Observamos um comportamento egoísta. É quase uma concorrência de quem vai chegar primeiro. Esse comportamento gera várias situações de risco - analisa o delegado. 

O instrutor teórico do Centro de Formação de Condutores (CFC) Viacentro Edelcir Luiz Mainardi lembra que o pedestre, ao contrário do motorista de veículo automotor, não passa por um treinamento sobre as regras de trânsito. Por isso, quem utiliza as vias sem CNH, muitas vezes, desconhece as regras de trânsito. 

ATROPELAMENTO É ÚNICO CASO DE INDICIAMENTO COM DOLO EVENTUAL
Embora o Departamento Estadual de Trânsito do Rio Grande do Sul (Detran/RS) considere atropelamento acidentes em que pedestres sofrem impacto de veículo automotor, a Polícia Civil trata também como atropelamentos acidentes em que veículos menores, como motos e bicicletas, são atingidos por veículos maiores. Neste ano, das 34 mortes no trânsito de Santa Maria, duas foram de ciclistas.

Em 17 de abril, Alceu Ferreira Lopez, 76 anos, andava de bicicleta quando foi atropelado por um caminhão, na BR-392, próximo ao acesso do Bairro Lorenzi, na região sul da cidade.

Na tarde de 17 de setembro, o ciclista Eloi Rodrigues Alves, 49 anos, foi atropelado por um ônibus que fazia a linha Vila Rossi, no entroncamento da Avenida Presidente Vargas com a Rua Padre Alziro Rogia, em frente ao portão de acesso à Paróquia Santo Antônio, no Bairro Duque de Caxias.

O ônibus trafegava pela Rua Padre Alziro Rogia, no sentido bairro-Centro, quando colidiu o ciclista, que recém tinha ingressado na Avenida Presidente Vargas, vindo da Avenida Walter Jobim. O ciclista morreu na hora.

RACHA
O risco de quem transita pela cidade sobre duas rodas se assemelha ao do pedestre. O mototaxista José Luiz Soliman, 57 anos, perdeu a vida depois de ser atropelado em fevereiro deste ano, na Avenida Medianeira, esquina com a Rua Duque de Caxias. Segundo a investigação da Polícia Civil, os motoristas de um Fiat Linea e de um Honda Fit estariam disputando racha quando bateram na moto de Soliman.

O passageiro do mototaxista, Marcelo da Rosa Godoy, 43 anos, ficou ferido. Esse foi o único caso de inquérito envolvendo dolo eventual (quando se considera que o acusado assumiu o risco de matar) remetido à Justiça neste ano. Os réus William Ávila, 18 anos, motorista do Linea, e Guilherme Cheuiche Peccinin, 18, que dirigia o Fit, respondem pelos crimes de homicídio qualificado e tentativa de homicídio qualificado.

IDOSOS SÃO VÍTIMAS
Uma característica que chama atenção é o número de atropelamentos de idosos. Dos 10 pedestres vítimas do trânsito neste ano, nove eram adultos com idades entre 53 e 85 anos (veja quem são as vítimas abaixo). Cinco eram idosos com mais de 60 anos. Normalmente, os pedestres com idade avançada são pessoas com problemas de locomoção, que não enxergam ou não escutam bem. A restrição psicomotora pode influenciar na resposta diante de uma ameaça.  

- Idade não é sinônimo de dificuldade para locomoção, mas é preciso ter cautela quando um idoso vai atravessar a rua. O condutor precisa ter paciência. O ideal seria que o idoso tivesse um acompanhante e que evitasse vias mais congestionadas - avalia o delegado Zanella.

AS VÍTIMAS DO TRÂNSITO EM 2018 

  • 23 de março - Valdir Machado Brum, 71 anos, morreu depois de ser atropelado por um Fiesta na BR-287, km 267, que trafegava no sentido São Pedro do Sul-Santa Maria.
  • 12 de abril - Cleonice Leal da Silva, 53 anos, foi atropelada por uma motocicleta que seguia no sentido Centro-bairro na ERS-509 (Faixa Velha de Camobi, próximo ao trevo do Castelinho). Ela morreu no hospital no dia seguinte.
  • 31 de maio - O morador de rua Luís Gustavo Dutra da Silva, 56 anos, foi atropelado na Avenida Borges de Medeiros, Bairro Nossa Senhora do Rosário, pelo motorista de um Celta, de 63 anos, que trafegava no sentido bairro-Centro. A vítima morreu no Hospital Universitário de Santa Maria horas depois do acidente.
  • 25 de junho - Adeli Antonieta Papalia, 67 anos, foi atropelada por uma moto na ERS-509, km 5, por volta das 19h. Ela atravessava a via na faixa de segurança. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) prestou atendimento à vítima, mas ela morreu no local.
  • 11 de julho - Alice Sampaio de Oliveira, de 1 ano, morreu após ser atropelada por um carro na Rua Vermelha (na foto, o local do acidente), na esquina com a Rua Miguel Meirelles, na Vila Lídia, Bairro Noal, às 12h45min. O motorista, de 23 anos, relatou que estava com o carro parado na rua conversando com um amigo. Ele disse que, na hora de arrancar, não viu a criança. O motorista fez o teste de bafômetro, que deu negativo para ingestão de álcool.
  • 3 de setembro - Neli Batista Till, 72 anos, foi atropelada na BR-392, km 347, no Bairro Passo das Tropas, por volta das 8h30min. De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), ela teria tentado atravessar a rodovia, próximo a uma lombada eletrônica, quando uma caminhonete Hilux, que trafegava no sentido Santa Maria-São Sepé, a atingiu. O motorista, que não se feriu, parou para prestar socorro à vítima. Ela foi levada pelo Samu para o Hospital Universitário de Santa Maria (Husm), onde morreu.
  • 6 de outubro - Luiz Carlos dos Santos, 49 anos, foi atropelado por um ônibus na ERS-511, km 9, na localidade de São Marcos. O ônibus transitava no sentido Silveira Martins-Santa Maria e tentou desviar de um carro que realizava uma ultrapassagem no local, quando atingiu a vítima, que caminhava na lateral da estrada. Segundo o Batalhão Rodoviário da Brigada Militar, no local não há acostamento. Santos foi encaminhada para o Hospital Universitário de Santa Maria (Husm), mas não resistiu.
  • 7 de outubro - Francisco Antônio Silveira, 71 anos, foi atropelado por uma motocicleta, na Rua de Caxias com a Rua João Batista da Cruz Jobim, às 23h35min. O idoso estaria tentando atravessar a Rua Duque de Caxias, na sinaleira da esquina da Rua João Batista da Cruz Jobim, quando um motociclista o atropelou. Testemunhas que estavam no local no momento do acidente relataram aos policiais que o motociclista teria acelerado o veículo e cruzado o sinal vermelho. Ao atropelar Silveira, ele teria caído no chão, levantado e fugido.
  • 8 de novembro - Helena da Silva Machado, 85 anos, foi atropelada por um caminhão-trator com semirreboque sobre a faixa de pedestre, na RSC-287, km 238, em Camobi. O motorista alegou que estava mexendo no teclado de rastreamento do caminhão e não viu a pedestre. O motorista não estava alcoolizado.
  • 12 de novembro - Marilene Lúcia Dambrosio Mario, 55 anos, atravessava a Avenida Presidente Vargas, quase na esquina com a Rua Barão do Triunfo, por volta das 21h30min, quando foi atropelada por um Honda City, que trafegava no sentido bairro-Centro. Ela morreu na hora. O motorista fugiu do local sem prestar socorro.

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